terça-feira, 16 de julho de 2013

Diálogos solitários de liberdade


Me dê asas
E tudo que precisarei será um céu púrpuro
Um céu fechado e puro
Por onde possa voar
Acima das casas,
Das pessoas e dos muros
Sólidos e imóveis, sem futuro,
Despedaçados e desistentes,
Fracassados e sorridentes.

Permita-me ir longe,
Longe de ti ou de mim mesmo,
-Afinal quantos de mim cabem por trás de meus fundos olhos?-
Pergunto-me enquanto as nuvens me abraçam como em doces sonhos
E abrindo as portas do fundo de minha mente
Mil espelhos me encaram amargamente
Mil espelhos - cada qual com seu semblante diferente.

Acompanhe-me,
Mas deixe-me só.
Quero a ti ao meu lado,
Mas não quero que me sigas.
Desata este nó
Que o destino fez para nos unir
E segurando firme em meu braço
Veremos o quão longe podemos ir.

Me ajuda a recriar os dias,
Faz da noite tua moradia
E permita que a Lua seja tua guia,
Como um olho a te reger por entre o escuro,
Faz da arte teu porto seguro.
Vive comigo na neblina da poesia
E serás mais um de mim, quem sabe, algum dia...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ideal inexistente

E na solitude caminhava por estes caminhos incolores da vida
E por ser só nada mais via que borrões aéreos, formas inibidas,
Nuvens cinzentas a fraquejar por entre os céus pálidos,
Nuvens soturnas que vagavam a procurar um brilho cálido.

Tive então certa razão concebida por meus pensamentos,
Neste mundo vago vagamos sós junto ao sofrimento
E este - ao estar sempre conosco - sempre nos deixa a esmo,
E portanto havia de criar o ideal por mim mesmo.

Dei-lhe forma, não física, mas podia senti-lo com meus dedos,
Talvez um anjo que aos outros pudera causar medo
Mas dei-lhe olhos de neblina, que fitavam a mim, sem pausa,
Esses olhos enevoados, espantados, de frias causas.

E via nesse brilho um tanto apagado um tom de agradecimento
E recebia, um tanto acanhado, asas que lhe dera a seus pensamentos
Para que junto a mim pudesse voar na amplitude de um devaneio
Para que junto a mim fosse o único, fosse aquele ao qual sombreio.

E com felicidade reprimida sorria em semblante dócil, esperançoso
E com minha alma o abracei, sentindo um ar misterioso,
Ar de quem sentia por mim tal amor etéreo,
Aquele amor que havia outrora o dado em sigilo e mistério.

E seus cabelos como ondas do mar eu sentia ao meu toque,
Como ondas do mar cortejadas pelos gracejos de um vento forte,
E eu sabia que por dar-lhe som, cor e amor estava condenado à dor
Porque enquanto tudo ao meu redor coloria, minha própria existência esvaecia,
Pois o sofrer de não poder fazer-lhe existir
Fazia a mim mesmo por entre aquelas sombras sumir.