quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ilimitar

Entrega-me de uma vez essa maçã mordida
Que carrega nas mãos
Desiste de uma vez de conter-se inconsciente
Dê-me as mãos
Caminhemos para longe do raso
Veremos até onde pode chegar nossa reflexão
Dê-me uma chance, então,
Para mostrar-te o mundo longe do chão.

Vejamos até onde a lua pode ir
Até onde nossa respiração pode aguentar
Façamos nascer asas em nossa ambição
A faísca de dentro do teu peito reluz,
Liberte-a,
Faça sua vontade,
Queime teu medo em paixão,
Vive a atravessar a ilusão
Acompanha-me dentro do fogo,
Guarde teus olhos para o irreal.

Permite a ti mesmo cobrir pela bruma de quem sonha,
Perder-se no impossível de ser quem és,
Honra a cabeça que carrega teu corpo,
Vago é o caminho escuro,
Silenciosa é a sombra que acolhe,
O vento faz um sinal, parte agora,
Não olha para trás,
Espero por ti além do cais.

O horizonte, como uma tela com tinta espalhada
Implora teu sangue vivo, fervente,
Tua alma inflamada,
Teu olhar dormente
Revela nada mais que um abismo,
Um abismo de mil feras
Inútil é correr
Tuas asas falam por ti.

Não nos pertence o que é real, veja,
Não fuja, temos tudo à mesa,
O bem mais precioso nos foi dado por nós mesmos,
O sonhar de quem dilacera o que enxerga na rotina
É o ouro de quem busca nessa irreal chacina
Livrar-se da dolorosa carnificina.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Despetalar-se


Por que fincaste teus pés ao solo, flor?
Por que tuas raízes se agarram ao chão?
Esqueceste de teu próprio amor?
Perdeste pela própria vida aquela paixão?
Conta-me, bela flor,
Qual tua razão?

Por que abandonaste o vento?
Por que entregaste ao momento?
Lembro-me da graça de teus movimentos, flor,
Lembro-me de tua alegre e viva cor.
Conta-me, bela flor,
Por que o sofrimento?

Linda flor, deixaste tua liberdade,
Agarrou-se ao agora por vaidade,
E agora, flor, o que te resta?
Estás só nesta imensidão,
Conta-me, bela flor,
Foi de bom grado que te entregaste à solidão?

Bela é tua cor, doce é o teu perfume,
Mas e agora, flor? Só tu pode senti-los
Deixou para trás tudo que te aquecia
Para descobrir teu próprio brilho,
Conta-me, bela flor,
Teu egoísmo te faz feliz?

Deixaste teu próprio mundo para trás
Atrás de uma tentação fugaz,
Afundando-se no arrependimento
Sofrendo no presente momento,
Conta-me, bela flor,
Tua escolha tem fundamento?

domingo, 19 de janeiro de 2014

Encontra-me


Hoje o céu sorri
E as nuvens se abrem para o sol.
Hoje as flores dançam ao vento,
Cuja voz não está só,
Hoje o vento me canta uma doce canção
E acaricia lento meus cabelos
Hoje as folhas caem e me abraçam,
Correm, se debruçam sobre o chão,
Unem-se pelo tempo da imensidão.

Hoje o cinza do dia toma emprestadas tuas cores,
Abraça-se ao vivo e gira em mil amores,
Hoje o meu sonhar é alto e livre,
Hoje a luz do dia me mostra como se vive,
Hoje não há pedra que possa me impedir de passar
Pois se tenho esperança, posso voar.

Hoje o ar suspira em confiança.
E a alma inspira em segurança,
Hoje meu pensamento junto a ti dança
Quando teu olhar ao meu se lança
Brilha ofuscante o que já havia perdido a esperança.

Hoje meu mundo se constrói
Em paisagem, som e cor
E espera sem dor o que vem
Pois sei que hoje tu vens.