quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mácula

A matéria morta
De um olhar,
O vazio que corta
Teu sonhar,
O escuro em volta
Inebria no ar,
Parte,
Aqui não é teu lugar.

O gélido "poderia ser"
Quebra a razão que me cerca,
Aquilo que poderia esquecer
Permanece ante mim, em inércia,
A luz rala que não vês
Torna tua solidão certa,
Vai,
A ti não há esperança concreta.

O teu escarnecer que me cega,
O voo cego que nunca partiu,
Tua sombra que a luz renega,
Evidências de teu mundo sombrio,
Arrependimento que não se nega,
O que me resta, além do frio?
Some,
Torna a teu mundo vazio.

O choro inaudível, fraco,
A lembrança oposta, a promessa,
A mentira que esconde os fatos,
A noite na qual me arremessas
Apenas para insultar-me, insensato,
Te esqueço antes que me impeça,
Deixa-me,
Teu olhar não mais me atravessa.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Forest solitude

O sangue vivo ainda escorre,
Escarlate pulsante me devora,
O fervor da indiferença trêmula,
O perigo que ainda corre
No lar onde o medo mora,
Em névoas noturnas quis te encontrar
Mas nada via além do teu olhar,
Teu olhar que não buscava reconhecer-me,
Teu olhar que a mim não pertencia,
Olhos navegavam sem roteiro,
Olhos que a outros entristeciam.

É fria a noite sem luar,
Mais fria se não posso te escutar.

Ver-te a mil anos de mim,
Onirismo sangrento
De quem não quebra as grades de sua prisão,
Em noite eterna, no breu sem clarão,
Tua luz foi a única a brilhar,
Teu mistério por infindos momentos
Fazia-me levitar pelo ar,
Teu calor imaginário que rompia o real,
Tua voz melodiosa, tonalidade surreal,
Anseios de agonia,
O sol nunca se via.

É escuro o caminho sem luz,
Mais escuro se teu olhar não reluz.

Tempo e espaço, todos para ti,
Um mundo só teu, em minhas mãos,
Uma existência vívida reluzia,
O vento que saudava o chegar do dia,
Teu perfume inebriava,
Deixava-me sem visão,
Tua luz a brilhar na escuridão
Mostrava-me a salvação,
Mas meus pés, fincados ao chão,
Faziam-me observar-te ao longe,
Enquanto, sem volta, partias.

É reles o lume que me distrai,
Mais reles se tua luz ainda me atrai.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Voo cego

Veja minha sombra,
Meus pés não encostam o chão,
Tenho a luz em minhas mãos,
O vento soprando sem direção
Me leva à contramão do mundo,
De meu sonhar sou oriundo,
Ao mundo iludo,
Mas é pleno o desejo,
É distante o que almejo,
Visto as roupas do que eu vejo
E guardo o que sinto para dentro,
O veneno que inalo inconsciente
É fruto de decepção entorpecente.

Veja o céu limpo,
As nuvens não pintam mais a imensidão,
Teriam elas perdido a razão?
Não me resta mundo onde viver,
Esgota-se o ópio do fingimento,
Que me resta, além de meu sentimento?
A casa está vazia, a vista está vazia...
Lembrar é apenas enlouquecer,
Viver a buscar o que se assemelha,
Mas o que há de errado na noite fria?
Seria intencional minha utopia?

Há um belo vazio ao meu redor,
Desespero e ansiedade dão-se as mãos
E de tão enegrecida união
Resta-me nada além de solidão,
Um céu imenso por onde voar,
Mas as imagens se repetem em minha visão,
A liberdade é minha prisão,
Escassa luz se acende em minha mente,
Clama por esperança, dormente,
Repousa inquieta no fundo da reflexão
Infinita e irreal, devora o que há em meu coração,
Restos de um mundo abandonado
Caem como folhas secas ao chão.

O caminho há de um dia ser encontrado,
E quando traçado
Haverá cor, dor e amor,
Haverá certeza ao meu lado
E meu anseio realizado
Moverá meu peito em ardor.