terça-feira, 15 de abril de 2014

Desnorte



Ergue-se diante de mim
Um brilho fraco,
Uma névoa fria,
Um branco sem fim
Que engole meus passos
E esconde o dia.

Alvas cortinas de mil fantasias,
Tinjo em teu peito as cores do meu olhar,
Enquanto sigo os sons dos sinos
Recito soturno vagas poesias
Procuro, em vão, tua voz pelo ar,
Busco pelo teu nome nas entrelinhas do destino,
Nas nuvens claras do céu, pareidolia,
Posso vê-los, olhares a me acompanhar,
Posso sentir teu sonhar repentino,
Teu semblante, distante, sem lugar.

Não há toque, não há voz,
Os passos repetem-se, imploram, inglórios,
Entre as paredes invisíveis de um viver
Devorado pelo anseio feroz,
Rendo-me, fraco, ao temor sórdido,
Infindas são as dúvidas em meu ser,
Cruel é o tempo que corre, veloz,
Distante é o caminho, longe, perdido
Nas brumas de um anoitecer
As certezas aos poucos sumindo.

Diga-me, pois,
Que há esperança para o final,
Que hei de encontrar a saída,
E que eu possa, agora ou depois,
Livrar-me deste mundo irreal,
Acender a luz, já consumida.