sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O Escapista

A noite finda o dia, encobre o céu de trevas
Engole a luz, sedenta, esgueira-se silenciosa e fria
Mas que brilho tem a lua! Que luz que dela recai!
O reflexo do sol que aquecia e clareava, a iludir-me mais e mais
Os resquícios da esvaecida felicidade refletiam, fracos
E para mim, tudo corria bem enquanto a alegria morria em meus braços
(Onde estás? Hei de alcançar-te)
Por escura que fosse a noite, por mais espinhos que houvesse à frente,
Cobri meus olhos, voltei-os para dentro e fingia estar contente,
Cobri com sangue a rispidez da realidade,
Em minha pele, fendas vermelhas que me levariam à felicidade
E o prazer escorria, escarlate, como gotas que pingavam dos céus
-A chuva rubra que lavava a dor e vestia-me com seus véus!-
(Nunca serás suficiente, teu amor nunca foi o bastante)
O ardor, a lembrar-me que mesmo a dor que já não sangra
Ainda dói, ainda marca e ainda inflama!
As marcas a lembrar-me do que não devo esquecer!
(Tua fé está em pedaços, teu coração em ruínas!)
Mas tudo parece bem, o sorriso assombra a quem vê
A utopia é sonhar com a sanidade, um sonho que hei de esquecer
(Não podes fugir de mim, não podes correr para longe)
O sonhar, o viver, o amar, pintados em tons avermelhados!
Poderia ser outro o sonho por mim sonhado?
(Estou perto de ti, rio ao teu ouvido
É o preço que pagas por ter fugido!
Estás preso, teu fim é inegável
Teu corpo já é ferido, tua mente já é instável)
E tudo parece bem, enfim, mais uma noite sem fim!
E a inalcançável lua a apreciar, de cima, meu sorriso em carmesim.