sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Para além do Mar

Erguem-se ante a mim ondas furiosas,
Que quebram em tuas praias, revoltosas,
Na enorme ressaca de sentir a falta tua
Correntes de memórias que me levam a ti
Me afogam,
Transbordam em meu corpo as águas de teu mar,
Inunda-me a vontade de ter-te junto a mim,
Afundo-me no azul profundo, debato-me, sem ar,
Escuro, como tua ausência,
Sufocante, como quando escondo de ti meu sonhar.

Leva a nau que me leva a ti à deriva, sem destino,
Navega-me pelas ondas de teus cabelos,
Que dançam ao vento, como dança minh'alma ao te ver,
Ah! Marejam meus olhos perdidos
A procurá-lo, mas não vê-lo,
Desaguam frustrados, distantes, à mercê
Da dúvida que pesa em minhas costas,
Algum dia hei de ancorar em tua encosta?

Bravo mar à minha frente, leva minhas palavras, lá e cá,
Balança meu coração, arrasta meus pés do chão,
Abro meus braços e atiro-me a maré,
Pois entrego-me cego a esta paixão!
E se há de consumir-me o mar,
Que consuma!
Leva-me de mim, pobre poeta sozinho a sonhar!
Se em tuas águas não hei de navegar,
Que eu me afogue de tanto te amar!

Abro os olhos, céu estrelado,
Tenho os pés no chão, tenho a ti ao meu lado,
Na calmaria de teu mar, reflete a lua,
Na euforia do meu olhar, a imagem tua,
E levo leve o coração
Que agora sabe que, para além do mar,
Existe sonho, esplendor e uma doce canção
Existe, pois para além do mar, está aquele que eu soube amar,
E como nossos pés, que por pequenas marolas são beijados,
Finda a noite,
E meus beijos encontram em ti a luz de um farol iluminado.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Dos ventos, foste brisa

Quisera o vento em meu rosto,

Em leve brisa amanhecida,
A tocar-me gentilmente como farias.
Lembrar-me-ia então do doce gosto
Que na mente ficasse enquanto sonharias
E mais uma vez, mais um sol, num novo dia,
Traria de ti para mim aquela canção esquecida.

Quisera aqueles beijos macios, tais como nuvens passageiras,
As quais contemplamos, maravilhados,
A esvoaçar, claras, pelo infindo azul celestial
Enquanto tento, com os dedos, em minhas mãos contê-las
Esquecendo-me ao teu lado do que é normal
Pois deslumbrantes são os dias que tens transformado.

A grande árvore, a esconder em seus galhos pequenos pensamentos
Que de mim insistem em fugir quando tento dizer-te o que soa por dentro
Faz sombra para acolher nossos sonhos
E protege do desamor nossos olhos desatentos
Ei-la, a balançar seus galhos risonhos,
Ei-me, a tremer de ansioso por dentro.

Quisera eu imergir no escuro de teus olhos,
Saber se adormece em ti a profundidade do mar,
Se livres voam pelos céus que em mim se erguem,
Se em ti deitam-se os sonhos que não sonhariam os mais simplórios,
Se aos meus olhos os teus seguem,
Di-me, enfim, se caibo dentro de teu amar.