sábado, 8 de novembro de 2014

He(art)

Um raio, um clarão repentino,
A certeza que se erguia ao piscar de meus olhos,
O destino que veio até mim sorrindo,
A mão que me salva dos meus feitos inglórios,
Por entre a noite, o primeiro raio matutino,
Em meio à confusão, o abrigo sóbrio.

Olhos escuros como a noite mansa,
Olhar manso que ao meu se lança,
Mares profundos nos quais mergulha meu sonhar,
Véu suave que revela o luar,
Honesto mistério que me absorve, me abraça,
O breu que ao verdejar se enlaça.

Tua calmaria,
A atenuar minhas sombras,
Tua melodia,
A saltar de tuas palavras,
A luz do dia
Que de teu peito ilumina,
Que me revela o caminho
Que se junta à minha sina,
Agora sigo, não mais sozinho.

A alma que solta voa, dança,
Gira e se abraça à tua,
O perfume que ao ar se lança,
O coração que não mais recua,
O medo, agora uma lembrança,
O voar, poder alcançar a lua
Que em teus olhos brilha em confiança.

O vento que me leva distante
Varre as folhas secas do chão,
O riso fácil, radiante,
O ecoar constante do coração,
E em meus olhos fechados
Posso ver a luz ao meu lado.

domingo, 2 de novembro de 2014

Esquece-me ou devoro-te VI

    Quando despertei, já não havia mais nenhum vestígio do que havia anteriormente acontecido ali. Aliás, não sei se posso dizer se estava no mesmo ali de antes. A sala parecia um pouco menor, e, depois de uma certa dificuldade em abrir os olhos, notei, com a visão ainda embaçada, que as paredes estavam brancas. Aquele branco me devorava, me irritava profundamente. Ele sabia disso -sim, eu sei que ele, da voz, era o responsável por tudo isso. Com um pouco de esforço e os olhos ainda doloridos e entreabertos, levantei-me e notei que havia apenas uma saída. Me aproximei lentamente e olhei um pouco, parecia um corredor infinito, um branco que não se esgotava. Antes que pudesse hesitar, imediatamente me veio ao pensamento o que a voz tinha dito a respeito disso, e sem outra escolha decidi atravessar aquele corredor sufocante. As paredes tinham um pouco mais além da largura de meus ombros, o que tornava um pouco angustiante andar por ali. Mas segui. Minha cabeça nesse momento não podia mais processar nenhuma informação, e minha única vontade, se é que posso chamar de vontade o que mais parecia um instinto era chegar ao final daquele corredor e, quem sabe, apunhalar de uma vez por todas aquele que foi o causador de meus pesadelos. Alguns passos depois, notei que havia no chão uma adaga. Parei por alguns instantes, ri para mim mesmo, incessavelmente. - É isso que queres? É isso que terás! - gritei, sem obter resposta. Minha expressão se alterou então, um semblante sério tomava conta de mim. Abaixei-me e guardei a adaga em um dos meus bolsos. Continuei a minha caminhada por longos minutos. Não sei dizer exatamente se o tempo passava ou permanecia ileso, se eu caminhava ou permanecia no mesmo lugar, mas nada parecia se alterar. Em intervalos alternados eu tentava correr, sem resultados. Aquilo nunca parecia chegar ao fim. Apesar disso, não me abalei. Já não tinha mais a mesma paciência de antes para questionar ou me irritar com o que acontecia. Eu apenas precisava sair dali. Milhares de passos dados, caí de joelhos ao chão, já havia me esgotado. E eis que ecoa de algum lugar aquela já conhecida voz.
  -Teu medo é não encontrar o fim? Ora, nada tenho com isso, esse corredor em que estás tu mesmo criastes. Não vês como as paredes brancas não se parecem em nada com as minhas paredes negras?- e ria-se ruidosamente -mas se queres mesmo sair daqui, antes do fim, precisas presenciar o fim, só assim saberás valorizar teus passos.
Eu não entendi muito bem o que aquelas palavras queriam dizer, mas antes que eu pudesse pensar, tudo tornou-se um breu absoluto e eu já não sentia meus pés tocarem o chão. Senti algo desconfortável em meu organismo -um aceleramento súbito de meu metabolismo, talvez. Olhei para minhas mãos e elas se enrugavam rapidamente. Meu desespero crescia quando eu percebi que eu já não tinha mais o corpo jovem de antes, me sentia fraco. Eu estava no fim. Quando caí ao chão, a última coisa que pude ver foram mariposas, centenas delas se aproximando, me cercando. Elas tomaram conta de meu corpo e eu sentia como se elas me devorassem, mas eu não podia me mover. Quando meus olhos se fecharam, senti meu corpo se erguer novamente com uma força que não era minha. Já de pé, notei que borboletas de todas as cores se desprendiam de mim e voavam pelo infinito breu, sumindo na distância. Olhei para minhas mãos, estavam lisas novamente. Era como se eu recuperasse a minha jovialidade. Olhando para a frente pude perceber uma porta a alguns passos de distância. Me aproximei. Dei uma última olhada para trás -tudo era breu. Atravessei a porta e estava em uma outra sala negra. No fundo da sala, que era um pouco maior que as outras, havia um espelho comprido, um pouco maior que eu. Dei lentos passos em sua direção, até que ouvi aquele riso de antes, mas desta vez ele estava bem atrás de mim, eu podia sentir. Virei-me, e notei que atrás de mim havia uma forma humana, totalmente escurecida. Possuía asas perceptivelmente deformadas e uma coroa repousava em sua cabeça e de seus dedos garras afiadas se projetavam. Sua presença era acompanhada de uma aura negra e eu não podia negar que estava assustado diante daquela forma. Seu riso deforme, dessa vez mais perto de mim do que qualquer outra vez, encheu aquele ambiente.
  -Vai em frente! Eu sei o que queres! Eu sei o que trazes contigo! Vai! Crava a adaga em meu peito!
Seu riso me irritava profundamente. Me preparei para golpeá-lo, mas antes que eu tirasse a adaga do bolso pude notar um riso que se erguia mais e mais de sua face sem traços. Sutilmente, retornei a adaga ao seu lugar e com o outro braço retirei a coroa de sua cabeça. Seu riso se desfez assim como a coroa que tornou-se vapor em minha mão. Sua expressão agora era algo que se aproximava de uma ira. Suas asas ergueram-se e eu tremi. Não havia tempo para pensar, então tornei a correr em direção ao espelho, enquanto aquela sombra permanecia parada, com suas asas erguidas e seu riso que tornava-se cada vez mais grave e temeroso. Parei de frente ao espelho e meu sangue esfriou ao ver que ele refletia não a minha imagem, mas uma sombra com asas, sem expressão e com uma coroa em sua cabeça. O desespero tomou conta de mim quando ouvi ao meu lado aquela voz novamente
  -Entendes agora, torpe homem? Sou parte de ti, és parte de mim. Tu me criaste e eu decidi tornar-me o teu pior pesadelo. Vai! Crava em meu peito a adaga! Tens coragem de ver o que pode acontecer contigo?
Eu não sei que tipo de sentimento tomava conta de mim agora, mas eu não tinha mais medo algum. Encarei a maldita sombra de frente, e ri. Ri como nunca havia antes rido em minha vida. Tirei do bolso a adaga e observei seu semblante sorrir lentamente.
  -Sei bem o que queres, maldito! Não terás de mim o que queres!
Cravei a adaga no espelho. Sua expressão se desfez e pude observar o doce pânico que agora sua face transparecia. Com o cabo da adaga, golpeei repetidamente o espelho, e pelos buracos do estilhaço, feixes de luz brilhavam. Pouco a pouco, a luz tomava conta daquele ambiente e a sombra, debatendo-se, desaparecia lentamente. Eu podia respirar aliviado agora. A luz tomava conta de meus olhos e tudo tornou-se um imenso branco.
Despertei mais uma vez.
Estava em minha cama, no meu quarto. Eu estava livre, finalmente. Sentia que minha vida recomeçava ali.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Esquece-me ou devoro-te V

    Assim que eu entrei pela porta, notei um estranho silêncio e um clima que de certa forma chegava a ser aconchegante. Dei mais alguns passos e sentei-me no canto, sentia-me bem porque de todo o inferno que havia passado, aquele era o único salão onde o conforto era real. Alguns minutos de calmaria -o suficiente para que eu repusesse-me- fizeram com que eu sentisse alguma sonolência. Enquanto meus olhos fechavam-se lentamente, notei uma sombra se aproximando gentilmente de mim e acariciando com suas macias mãos meu rosto. Eu não poderia explicar o porquê, mas aquele gesto causava-me certa atração. Levantei-me, e com os olhos ainda pesados, segurei a sombra pela mão e deixei que me conduzisse. Um estranho sentimento de felicidade agora invadia-me a mente, enquanto outras sombras surgiam das paredes e tratavam-me igualmente com cuidado. O sono misturado ao deleite fazia meus pés flutuarem enquanto as mãos aquecidas percorriam meu corpo. Foi só então, quando eu quase entrava em profundos sonhos, que as mãos até então macias tornavam-se rígidas, as leves carícias tornavam-se doloridos arranhões, o calor aconchegante tornava-se o frio que quebrava a quietude da alma. Tão de repente como uma chuva que cai no verão as situações foram invertidas, e agora, caído ao chão, assustado e sem entender o que acontecia, via-me sendo chutado, cuspido, algumas andavam por cima de mim como se minha existência não fosse de qualquer notoriedade, outras empurravam-me, como se meu corpo fosse um imenso estorvo na frente de seus objetivos. Pouco a pouco o salão ficava mais e mais frio, até que, encolhido ao meu máximo, eu sentisse minha pele ressecar-se, congelar. Enquanto isso as sombras seguiam correndo, saltando, riam-se e pareciam agora buscar qualquer objetivo que não fosse notar minha presença ali. Depois de longos e torturantes instantes, diminuíam de velocidade e o frio de intensidade. Juntaram-se, e, diante de mim, encaravam-me com certo olhar de pena, talvez superioridade. Naquele momento, a voz que até então misteriosamente havia ausentado-se volta, para meu desespero.
   -Covarde! Deixaste realmente que te levassem, que te abusassem sem ao menos saber onde estavas indo? Tolo! O chão é teu lugar! Permanece onde caíste, nunca serás digno de nada além de pena, infeliz!
   
Aquela voz dessa vez fazia crescer dentro de mim qualquer coisa parecida com ódio -senão o próprio- e, nauseado, levantei-me cambaleante. Aquelas palavras me enojavam e meu estômago cada vez mais embrulhava-se com o ríspido tom do discurso. Caí novamente de joelhos, e senti passar pelo meu corpo toda a angústia presa em mim. Jorrava de minha boca o medo que eu agora tentava eliminar, enquanto sentia pequenos fragmentos de uma profunda tristeza cortando minha garganta. O gosto do sangue misturava-se ao salgado sabor das lágrimas, e, enfraquecido, meu corpo febril caía ao chão, desacordado. A última coisa de que me lembro era ouvir a maldita voz dizendo-me algo, vagamente:
   -...tua jornada por aqui em breve terminará e voltarás ao que é real... mas, antes, devorar-te-ei em teus próprios anseios. Covarde! [...]

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Esquece-me ou devoro-te IV

    Meus olhos abriam-se pesadamente, como alguém que empurra com grande dificuldade um pesado portão de ferro para que então a luz possa invadir o lado de dentro. Causou-me certo estranhamento perceber que eu não estava mais encostado à parede, mas sim no centro do que parecia outra sala - ora, mas se todas as salas são igualmente negras, como podes diferenciá-las entre si? - perguntaria-me uma mente mais lógica. Pois bem, digo que além das dimensões diferentes e dos distintos posicionamentos das entradas havia ainda uma certa vibração - cada cômodo daquela estranha mansão havia um sentido próprio, uma atmosfera que diferenciava uma da outra, e a presente sala me causava certa atração, algo instigava-me profundamente. Com certo esforço levantei-me - minha força ainda não havia sido completamente recobrada - e, ao levantar-me, percebi que além de estar em outra posição, minhas vestes haviam sido igualmente substituídas por um elegante conjunto de terno, colete, camisa, calça e sapatos. Uma certa luz interna então irradiou minha mente de forma que me causou o esquecimento de qualquer evento passado (a este ponto, por consequência, eu já estava com o meu corpo igualmente recuperado). Percebi então que este cômodo ia além das triviais diferenças já citadas: nos cantos das paredes havia uma leve incidência de uma luz azul, não forte o suficiente para ser percebida pelos olhos mais desatentos. A sensação de não estar sozinho, que já fazia-se presente em todos os outros momentos, desta vez era um pouco mais peculiar. Foi então que, tendo isso percebido, notei que do centro de uma das paredes uma forma levemente iluminada por uma escassa luz azul escurecida andava em minha direção a passos lentos. Aos poucos a forma revelava-se, como se aquela luz de origem desconhecida ficasse mais nítida de acordo com a aproximação. Ficando a pouco menos de um metro de mim, pude perceber que a forma tratava-se de um homem, tão bem trajado quanto eu inexplicavelmente estava, que agora parecia estático e tinha seu rosto ainda coberto pelas sombras. Andei um pouco, e lentamente, ao seu redor, tentando decifrar seu semblante. Após aproximadamente dez passos dados, ele virou-se de frente a mim, aproximou-se mais rapidamente e tirou da algibeira uma rosa vermelha, sentiu seu perfume e jogou-a em minha direção, puxando então meus braços. Uma sensação de pânico tomava conta de mim por dentro - eu não imaginava o que poderia ali acontecer. Com um dos braços estendido na diagonal ele segurava meu braço e encaixava seus dedos entre os meus. O outro braço abraçou-se à minha cintura, e eu, sem entender o que ocorria, fiz o mesmo por lembrar-me do que a voz - maldita voz! - disse-me sobre hesitar. De certa forma, nossos corpos pareciam encaixar-se perfeitamente e o vapor quente de sua serena respiração causava-me encanto. Em seu rosto, ainda oculto pelas sombras, apenas era possível enxergar o fundo de seus olhos. Seu olhar era profundo, firme, e fitava minha alma como quem devora uma tela de Dalí. Naquele momento senti qualquer racionalidade evaporar-se de mim, meu rosto existia apenas para aquele olhar. Após alguns minutos de pura contemplação e mesmerização por minha parte, meu corpo involuntariamente entregava-se à dança enquanto o desconhecido cavalheiro conduzia-me. Naquele momento - não posso definir com exatidão se provinha de meus devaneios ou do próprio ambiente - pude ouvir um suave violino ecoando. Os passos eram lentos e cautelosos, girávamos incansavelmente nos limites daquele cômodo. Percebi uma breve pausa tanto na dança quanto na melodia. Pude ouvir sua respiração por algumas vezes, o tom sereno agora parecia mais agitado. Foi então que uma outra música começou, dessa vez em ritmo frenético - algo como um tango - e os passos aceleravam-se de maneira igualmente frenética. Meu ritmo cardíaco era coordenado pelo violino assim como eu era coordenado por aquele ser singular. Uma outra música podia ser ouvida em cima da que já fazia-se presente, porém com um tom mais agressivo, mais ríspido, ainda que seduzisse-me cada vez mais. Senti-me totalmente entregue às vontades daquela melodia e meus pensamentos giravam em sentido oposto ao que meu corpo girava desenfreadamente naquela fervorosa dança. De repente, risos. Meu parceiro de dança ria-se em um riso profundo e assustador. Seus traços mudaram - já não era o mesmo, ainda que estivesse recoberto por sombras. Minha expressão de medo consolidou-se ao perceber que eu já não tinha controle algum de meu corpo. Assustado, tentei em vão olhar novamente para aquele profundo olhar de antes - em vão porque já não havia clareza que me permitisse tal feito. Tudo era sombra, e um ar frio começava a espalhar-se ao meu redor. Terminando bruscamente a música, fui atirado ao chão e ali fiquei enquanto ouvi aquele riso adentrar minha cabeça, perturbando-me cada vez mais alto. Pouco tempo depois, afastou-se e eu já notava novamente minha solidão. Levantei-me e segui pela próxima entrada, questionando-me acerca de quem era a temerosa (e instigante) sombra.

domingo, 22 de junho de 2014

Esquece-me ou devoro-te III

    Corri por incríveis três minutos sem perder meu vigor ou esboçar qualquer sinal de fraqueza ou cansaço. Apesar disso, senti uma força adentrar em meu peito e automaticamente me derrubar ao chão, fazendo-me cair de joelhos. Com a cabeça baixa eu sentia todo aquele vigor de antes esvaecer como que um sopro apagando a chama de uma vela. A extrema e repentina fraqueza tomava conta tanto de meu corpo quanto de minha mente, eu queimava de dento para fora, meus olhos ardiam e minha mente misturava todas as imagens de meu subconsciente como quem remenda pedaços de tecido um no outro, lançando-o ao vento e fazendo todas aquelas cores serem misturadas, como em uma dança frenética e doentia. O aspecto febril de meu corpo já me causava fortes náuseas, e juntamente inexplicáveis alucinações. As paredes pareciam fitar-me, mexiam-se, tinham feição, tinham personalidade, tinham vontade própria. A essa altura, encolhido ao máximo que meu corpo permitia, girava minha cabeça impulsivamente buscando um alívio para tudo aquilo - foi em vão meu esforço. A tontura já tirava meus pés do chão e eu já perdia qualquer vínculo com qualquer resquício de realidade naquele mórbido labirinto de ilusões. O fervor de meu corpo já não era mais perceptível - repito que havia perdido qualquer vínculo com a real percepção - e eu achava-me em um imenso vácuo, não havia chão, não havia qualquer indício de realidade, mas lá eu estava em meio às súbitas cores que piscavam freneticamente em intervalos maiores ou menores, entre a fumaça que me envolvia, apertava meu corpo e ia embora, entre as pedras que caiam incansavelmente sobre meu corpo deixando-o extremamente dolorido mas não o suficiente para que eu me queixasse da mesma. De repente, cessou-se qualquer movimento e eu me via sentado, abraçado às minhas próprias pernas, em um cômodo escuro com apenas uma grande luz que se originava do alto de minha cabeça iluminando-me, como num interrogatório. Formas indefinidas, vultos pairavam, rodavam, corriam por todos os cantos em uma velocidade que meus cansados olhos não podiam acompanhar. Uma espécie de pavor e tristeza se apoderava de mim naquele momento. Um murmurinho foi aumentando gradativamente de tom, passando do imperceptível e perturbador som de vozes desconhecidas falando apressadamente o que minha audição não podia compreender até a grave tonalidade que aquelas palavras tomavam, me atingindo como flechas. "Covarde! Larga-te a ti mesmo em tua própria escuridão!" gritava uma das vozes. Entre ela, outras seguiam entrelaçando-se, eram dezenas de vozes acusando-me, e aquilo me feria não apenas mentalmente como também fisicamente. "Vejam só que fracasso de existência! Abandona tua vida, infeliz!" "Ha! Ha! Ha! Pensas mesmo que podes continuar a existir, ocupando a preciosa matéria do universo? Tolo!" "Pois abandonaram-te enfim, torpe ser! Já não era hora de desistirem de tua mediocridade!" "Indigno! Prova do veneno de tua miséria e morre entre as paredes de tua solidão!". São apenas estas as acusações das quais me recordo no presente momento - minha cabeça dói - mas haviam ainda milhares de outros insultos, doloridos e flamejantes. A rispidez das palavras me atingia a cabeça. O escárnio escorria da minha cabeça, se espalhando pelo meu rosto, pingando em meu corpo e no chão. O cheiro férreo da dor tomava conta daquele lugar. Minhas mãos manchadas em vermelho tremiam. Meu corpo enfraquecia aos poucos enquanto tudo ao meu redor girava em uma velocidade incapaz de ser medida, enquanto os gritos tornavam-se tão altos e intensos que já tornava-se incapaz de distingui-los. De acordo com que a intensidade dos fatos acelerava e aumentava, a sala ia ficando mais e mais branca, até que um flash intenso trouxe-me de volta à sanidade. Eu estava ainda ajoelhado, levei minhas mãos ao rosto e elas estavam limpas. Minha cabeça doía enquanto eu tentava entender o que acontecia. Olhei ao meu redor e as mesmas paredes negras permaneciam sólidas, em silêncio, como quem quisesse esconder algo de mim. Levantei-me e furioso fui de encontro à parede "Maldita!" exclamava em minha ira "Conta-me o que sabes! Tu, que me olhavas até agora, diga-me o que escondes de mim!". Minha força - que então já era pouca - exauriu-se naquele momento. Esbaforido, atirei-me ao chão e dos meus olhos atiravam-se lágrimas. Algum tempo depois, a voz que guiou-me até ali surge novamente.
   -Ha Ha Ha! Vês agora do que estou falando? Vês o poder que exerço sobre ti? Acreditas em mim agora, medíocre? Posso causar-te os mais terríveis pesadelos, mas também sou capaz de trazer-te os mais belos sonhos. Faça por merecer, e mostrarei a ti o paraíso que carregas. Será que já dei provas o suficiente para que confies em mim ou preferes ainda encarar tua própria ruína?

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Esquece-me ou devoro-te II

   Enquanto eu caminhava lentamente, as paredes pareciam comprimir-se a alargar-se com frequências indeterminadas. Grande era meu esforço para encolher todo o meu corpo, permitindo assim minha passagem por algumas partes. E assim segui, até que cheguei ao que parecia um grande salão, cujas paredes tinham tamanha distância que era possível habitar aquele lugar como em uma verdadeira casa. Em cada uma dessas paredes havia algo que eu poderia assemelhar a janelas, delas se projetavam feixes de luz suave, tocando levemente o chão e formando um prolongamento de luz da janela até metade do perímetro de cada parede paralela à luz. Do alto teto pendia um luxuoso lustre que emanava pequenas chamas brancas - nenhuma capaz de iluminar nada mais que poucos centímetros à sua frente, entretanto. Percorri metade do perímetro da sala, observando cada uma daquelas janelas, mas, não causando-me surpresa, notei que nada havia ali além do branco da luz, branco esse que apesar de  imponente não chegava a incomodar minha vista. Caminhei por mais alguns momentos até estar totalmente coberto pela luz de uma das janelas - a sensação era incrivelmente satisfatória, uma pureza percorria minhas veias, uma calmaria me invadia a mente. Eis que novamente a mesma voz de antes reverbera
   -Teus passos hesitam? Sinto em dizer, garanto que será melhor não hesitar... se hesitas largo-te aqui, à tua própria sorte, no labirinto de teu próprio subconsciente. Queres mesmo perder-te em tua própria loucura? Um passo para trás e nunca mais saberás o que é a sanidade, o que é o mundo real. Um passo em falso e nunca mais verás a luz do dia.
Enquanto terminava de falar, as luzes do salão fechavam-se aos poucos, indo do puro branco, passando pelo pálido cinza até que aquele recinto fosse tomado pela completa escuridão. Um gélido sopro me percorreu a espinha, e como um reflexo imediato passei a correr em linha reta. Após uma breve pausa,  completou:
   -...por outro lado, se confias em mim e segues em frente, terás não a garantia de estar salvo, mas a possibilidade de descobrir algo além. Que importa se sairás daqui? De qualquer forma teu futuro é incerto. Permanece e te perderás. Segue-me e descobrirás se sou merecedor de tua confiança. Em todo caso, posso garantir que nenhum ferimento poderei eu causar-te. Então, novamente entrego a ti meu questionamento, confias em mim?

domingo, 15 de junho de 2014

Esquece-me ou devoro-te I

    -...Ouves-me? Se sim, é porque desejas ouvir-me. Estou ao teu lado, dentro de ti, vivendo cada momento contigo. Sei de teus pensamentos mais profundos e secretos, de tuas reflexões mais corrosivas e de teus prazeres mais mórbidos. Sei de cada passo teu e de cada sorriso que escondes em teu âmago por puro medo. Posso ver teu medo, posso senti-lo e até tocá-lo. Temes a mim? Não podes enganar-me, conheço a ti mesmo assim como um capitão conhece os mares. Conheço pedaços de ti que tu nunca enxergastes. Conheço os animais que vivem em ti, como loucos, selvagens, possuidores de tamanha força que poderiam dilacerar-te em minutos. Conheço luzes que poderiam cegar-te, outras que poderiam ofuscar-te, ou ainda as que causariam em ti tamanho encanto que haveria de servi-las como escravo. Conheço pequenas flores que te causariam imensa felicidade, que abririam o teu sorriso para nunca mais fechá-lo. Conheço céus nos quais teus olhos perder-se-iam e nuvens que os teus mais ardentes desejos alcançariam e tomariam para si, apalpando-as como a recompensa de um árduo trabalho. Então, confias em mim? Seguirá minha voz enquanto mostro a ti teus próprios segredos?
     Abri então os olhos. Além de mim não havia nada. Tudo estava na mais plena escuridão, mas de alguma forma uma luz permitia que enxergasse meu corpo perfeitamente - além de enxergar as vértices das negras paredes - mas ao mesmo tempo não roubava a opacidade daquele lugar indefinido. Levantei-me, e visivelmente perdido em indagações, sentia que algo estava a me observar, mas não sabia o quê, muito menos de onde. A passos lentos, fui seguindo na direção de onde aquela voz anteriormente parecia ecoar.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Deriva

Salva-me!
Ajuda-me a sair do olho do furacão!
Busca-me! Em meio a tempestade,
Fraco, resisto,
Já não estão os meus pés tocando o chão!
Veja os raios cortando a vida,
Veja a calmaria da noite que explode na claridade!

À deriva não há equilibro,
Ventos me empurram, selvagens,
Deus sabe onde isso há de levar!
Deus sabe quando a tormenta há de se acalmar!
Pois só os céus acima das nuvens negras saberão -
A pior tormenta parte do coração!

Ai de mim! Perco-me nas incertezas furiosas,
Rebatem-me os escárnios, sólidos, dolorosos,
Que quereis mais de mim, sombras impetuosas!?
Não vedes que vossa nau é fraca, tanto quanto a minha!?
Não vedes que há de afundar em meio às ondas tempestuosas!?
Arrastai-me logo ao fundo do mar! Arrastai-me convosco, infelizes!
Arrastai-me! Porque é lá nosso lugar!

Deuses que regem a vida, que hei de fazer então?
Apagaram-se as estrelas, cessaram-se os ventos,
Que me restou, além dos destroços de minha solidão?
Que posso fazer, se estou a flutuar nessa infinda imensidão?
Que posso eu agora pensar, se por mim arrisquei-me a vida,
Por meus caprichos, minhas vontades, agora esquecidas,
De que posso queixar-me, se a mim mesmo dirigi a ruína!

Quantas pedras serão contra mim atiradas?
Que julgamento desta vez há de se erguer?
Pois digo, os pilares de minha existência - 
Ai de mim! - já não podem mais sustentar
Aquilo que, torpe, sucumbe devagar,
Aquilo que vê em meus olhos o fim em sua iminência,
Aquilo - por nome de esperança - que agoniza,
Afoga-se e tenta, em vão, prender o ar,
Resistindo bravamente,
Mesmo que apenas veja pela frente
O escuro ainda oculto do mar.

domingo, 4 de maio de 2014

Encarcerada liberdade

Onde estás?
Roubaram-me as portas da liberdade,
Fecharam as janelas do meu paraíso,
Encarceraram-me em minha própria sanidade,
Trancaram os meus sonhos, agora omissos.

Quando vens?
Cortaram minhas asas, levaram-nas embora,
Enterraram-me os pés ao chão,
Algemaram-me os pensamentos, não vejo o que há por fora,
Incineraram qualquer sensação.

Não te demores, meu bem,
Pois já torturam meus sentimentos,
Desgastaram meus olhos fracos,
Cessaram os alegres ventos,
Prenderam-me no sensato.

Espero-te para iluminar,
Pois jogaram sombras ao meu redor,
Para onde eu olho, apenas limites,
E grito e fecho meus olhos e debato-me só,
Será que o tal horizonte de fato existe?

Não suporto mais ansiar,
O frio a envolver meu corpo que dói
Somente aumenta a solidão atônita,
A amargura de precisar corrói,
A emoção se esvaece recôndita.

Leva-me contigo,
Mostra-me o que é voar, ensina-me o que é amor,
Antes que me façam desacreditar, ensina-me a sonhar,
Ensina-me que o mundo tem forma, poesia e cor,
Quebra as paredes que limitam meu olhar,
Meu olhar que recai em torpor,
Meu sonhar que se vai pelo ar.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Desnorte



Ergue-se diante de mim
Um brilho fraco,
Uma névoa fria,
Um branco sem fim
Que engole meus passos
E esconde o dia.

Alvas cortinas de mil fantasias,
Tinjo em teu peito as cores do meu olhar,
Enquanto sigo os sons dos sinos
Recito soturno vagas poesias
Procuro, em vão, tua voz pelo ar,
Busco pelo teu nome nas entrelinhas do destino,
Nas nuvens claras do céu, pareidolia,
Posso vê-los, olhares a me acompanhar,
Posso sentir teu sonhar repentino,
Teu semblante, distante, sem lugar.

Não há toque, não há voz,
Os passos repetem-se, imploram, inglórios,
Entre as paredes invisíveis de um viver
Devorado pelo anseio feroz,
Rendo-me, fraco, ao temor sórdido,
Infindas são as dúvidas em meu ser,
Cruel é o tempo que corre, veloz,
Distante é o caminho, longe, perdido
Nas brumas de um anoitecer
As certezas aos poucos sumindo.

Diga-me, pois,
Que há esperança para o final,
Que hei de encontrar a saída,
E que eu possa, agora ou depois,
Livrar-me deste mundo irreal,
Acender a luz, já consumida.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Névoa

Noite,
De escura frieza,
De discreta grandeza,
Noite, a enevoar os meus caminhos,
Torna clara minha vista,
E, antes que eu desista,
Mostra a mim o teu sorriso.

Noite,
De nobre e suave olhar
De cavalheiro,
De leve e delicado ar
De uma dama,
Nas sombras escondes-te de mim,
Nas sombras, meu sonho sem fim
Ilumina com o luar,
Implora este a quem ama.

Noite
De criaturas e formas esguias,
De ruídos e ruas vazias,
Teu sopro de mistério,
Teu semblante sério,
Tua mão me conduzia
Contra os ventos de meu temor,
De teus olhos transbordava o amor.

Noite,
Cortejada pela dama em carmesim,
Tudo era sonho em mim,
Ver-te ante meus olhos trêmulos
Ver-te, a deslumbrar-me,
Anseio de uma chama que arde,
Consome, a passos lentos,
Aquele que te ama sem alarde.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mácula

A matéria morta
De um olhar,
O vazio que corta
Teu sonhar,
O escuro em volta
Inebria no ar,
Parte,
Aqui não é teu lugar.

O gélido "poderia ser"
Quebra a razão que me cerca,
Aquilo que poderia esquecer
Permanece ante mim, em inércia,
A luz rala que não vês
Torna tua solidão certa,
Vai,
A ti não há esperança concreta.

O teu escarnecer que me cega,
O voo cego que nunca partiu,
Tua sombra que a luz renega,
Evidências de teu mundo sombrio,
Arrependimento que não se nega,
O que me resta, além do frio?
Some,
Torna a teu mundo vazio.

O choro inaudível, fraco,
A lembrança oposta, a promessa,
A mentira que esconde os fatos,
A noite na qual me arremessas
Apenas para insultar-me, insensato,
Te esqueço antes que me impeça,
Deixa-me,
Teu olhar não mais me atravessa.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Forest solitude

O sangue vivo ainda escorre,
Escarlate pulsante me devora,
O fervor da indiferença trêmula,
O perigo que ainda corre
No lar onde o medo mora,
Em névoas noturnas quis te encontrar
Mas nada via além do teu olhar,
Teu olhar que não buscava reconhecer-me,
Teu olhar que a mim não pertencia,
Olhos navegavam sem roteiro,
Olhos que a outros entristeciam.

É fria a noite sem luar,
Mais fria se não posso te escutar.

Ver-te a mil anos de mim,
Onirismo sangrento
De quem não quebra as grades de sua prisão,
Em noite eterna, no breu sem clarão,
Tua luz foi a única a brilhar,
Teu mistério por infindos momentos
Fazia-me levitar pelo ar,
Teu calor imaginário que rompia o real,
Tua voz melodiosa, tonalidade surreal,
Anseios de agonia,
O sol nunca se via.

É escuro o caminho sem luz,
Mais escuro se teu olhar não reluz.

Tempo e espaço, todos para ti,
Um mundo só teu, em minhas mãos,
Uma existência vívida reluzia,
O vento que saudava o chegar do dia,
Teu perfume inebriava,
Deixava-me sem visão,
Tua luz a brilhar na escuridão
Mostrava-me a salvação,
Mas meus pés, fincados ao chão,
Faziam-me observar-te ao longe,
Enquanto, sem volta, partias.

É reles o lume que me distrai,
Mais reles se tua luz ainda me atrai.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Voo cego

Veja minha sombra,
Meus pés não encostam o chão,
Tenho a luz em minhas mãos,
O vento soprando sem direção
Me leva à contramão do mundo,
De meu sonhar sou oriundo,
Ao mundo iludo,
Mas é pleno o desejo,
É distante o que almejo,
Visto as roupas do que eu vejo
E guardo o que sinto para dentro,
O veneno que inalo inconsciente
É fruto de decepção entorpecente.

Veja o céu limpo,
As nuvens não pintam mais a imensidão,
Teriam elas perdido a razão?
Não me resta mundo onde viver,
Esgota-se o ópio do fingimento,
Que me resta, além de meu sentimento?
A casa está vazia, a vista está vazia...
Lembrar é apenas enlouquecer,
Viver a buscar o que se assemelha,
Mas o que há de errado na noite fria?
Seria intencional minha utopia?

Há um belo vazio ao meu redor,
Desespero e ansiedade dão-se as mãos
E de tão enegrecida união
Resta-me nada além de solidão,
Um céu imenso por onde voar,
Mas as imagens se repetem em minha visão,
A liberdade é minha prisão,
Escassa luz se acende em minha mente,
Clama por esperança, dormente,
Repousa inquieta no fundo da reflexão
Infinita e irreal, devora o que há em meu coração,
Restos de um mundo abandonado
Caem como folhas secas ao chão.

O caminho há de um dia ser encontrado,
E quando traçado
Haverá cor, dor e amor,
Haverá certeza ao meu lado
E meu anseio realizado
Moverá meu peito em ardor.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ilimitar

Entrega-me de uma vez essa maçã mordida
Que carrega nas mãos
Desiste de uma vez de conter-se inconsciente
Dê-me as mãos
Caminhemos para longe do raso
Veremos até onde pode chegar nossa reflexão
Dê-me uma chance, então,
Para mostrar-te o mundo longe do chão.

Vejamos até onde a lua pode ir
Até onde nossa respiração pode aguentar
Façamos nascer asas em nossa ambição
A faísca de dentro do teu peito reluz,
Liberte-a,
Faça sua vontade,
Queime teu medo em paixão,
Vive a atravessar a ilusão
Acompanha-me dentro do fogo,
Guarde teus olhos para o irreal.

Permite a ti mesmo cobrir pela bruma de quem sonha,
Perder-se no impossível de ser quem és,
Honra a cabeça que carrega teu corpo,
Vago é o caminho escuro,
Silenciosa é a sombra que acolhe,
O vento faz um sinal, parte agora,
Não olha para trás,
Espero por ti além do cais.

O horizonte, como uma tela com tinta espalhada
Implora teu sangue vivo, fervente,
Tua alma inflamada,
Teu olhar dormente
Revela nada mais que um abismo,
Um abismo de mil feras
Inútil é correr
Tuas asas falam por ti.

Não nos pertence o que é real, veja,
Não fuja, temos tudo à mesa,
O bem mais precioso nos foi dado por nós mesmos,
O sonhar de quem dilacera o que enxerga na rotina
É o ouro de quem busca nessa irreal chacina
Livrar-se da dolorosa carnificina.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Despetalar-se


Por que fincaste teus pés ao solo, flor?
Por que tuas raízes se agarram ao chão?
Esqueceste de teu próprio amor?
Perdeste pela própria vida aquela paixão?
Conta-me, bela flor,
Qual tua razão?

Por que abandonaste o vento?
Por que entregaste ao momento?
Lembro-me da graça de teus movimentos, flor,
Lembro-me de tua alegre e viva cor.
Conta-me, bela flor,
Por que o sofrimento?

Linda flor, deixaste tua liberdade,
Agarrou-se ao agora por vaidade,
E agora, flor, o que te resta?
Estás só nesta imensidão,
Conta-me, bela flor,
Foi de bom grado que te entregaste à solidão?

Bela é tua cor, doce é o teu perfume,
Mas e agora, flor? Só tu pode senti-los
Deixou para trás tudo que te aquecia
Para descobrir teu próprio brilho,
Conta-me, bela flor,
Teu egoísmo te faz feliz?

Deixaste teu próprio mundo para trás
Atrás de uma tentação fugaz,
Afundando-se no arrependimento
Sofrendo no presente momento,
Conta-me, bela flor,
Tua escolha tem fundamento?

domingo, 19 de janeiro de 2014

Encontra-me


Hoje o céu sorri
E as nuvens se abrem para o sol.
Hoje as flores dançam ao vento,
Cuja voz não está só,
Hoje o vento me canta uma doce canção
E acaricia lento meus cabelos
Hoje as folhas caem e me abraçam,
Correm, se debruçam sobre o chão,
Unem-se pelo tempo da imensidão.

Hoje o cinza do dia toma emprestadas tuas cores,
Abraça-se ao vivo e gira em mil amores,
Hoje o meu sonhar é alto e livre,
Hoje a luz do dia me mostra como se vive,
Hoje não há pedra que possa me impedir de passar
Pois se tenho esperança, posso voar.

Hoje o ar suspira em confiança.
E a alma inspira em segurança,
Hoje meu pensamento junto a ti dança
Quando teu olhar ao meu se lança
Brilha ofuscante o que já havia perdido a esperança.

Hoje meu mundo se constrói
Em paisagem, som e cor
E espera sem dor o que vem
Pois sei que hoje tu vens.