sábado, 30 de maio de 2015

(Sobre)viver

Onde estará meu céu, se a noite apagou meu olhar
E de que é feito meu viver, se está morto o meu sonhar?
Noite em tempestade, escura agonia silenciosa,
Por que te escondes de mim e afia tuas garras, insidiosa?
Dá-me a mão por uma vez, vede meu torpe agonizar,
É assim que queres a mim, envenenado em meu próprio ar?
Pois é caos que em mim plantaste, desordem que espreita,
E a mim sobraram os frutos de tua triste colheita.

Desse a mim mais uma vez aquelas asas de névoa,
Desse a mim a felicidade, que eu daria a ti a trégua!
Mas me jogaste ao frio chão, pisaste em meu nome,
E em meus brados, infeliz, ouça meu penar! Some!
E os que gritavam "Pobre Alphonsus", hoje calaram,
Viraram-me as costas, e à própria sorte deixaram-me,
Foi-se a pureza que me rondava, alegria que me brilhava,
Foi-se a leveza do sol que minha pele afagava.

Devolve-me, tirana agonia, minha sanidade,
Ou queima o mundo em sua infinda má vontade,
Pois é mal que espreita a terra como uma praga por vir,
E fraco, sedento, sei que não posso resistir,
Deste a mim o peso do sofrer, maior que posso suportar
Deste a mim falsa felicidade, golpeaste meu sonhar,
Por que, amarga bruxa, deste a mim de tua água
Se mais tarde me trairia e me faria provar de tua mágoa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário