quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ideal inexistente

E na solitude caminhava por estes caminhos incolores da vida
E por ser só nada mais via que borrões aéreos, formas inibidas,
Nuvens cinzentas a fraquejar por entre os céus pálidos,
Nuvens soturnas que vagavam a procurar um brilho cálido.

Tive então certa razão concebida por meus pensamentos,
Neste mundo vago vagamos sós junto ao sofrimento
E este - ao estar sempre conosco - sempre nos deixa a esmo,
E portanto havia de criar o ideal por mim mesmo.

Dei-lhe forma, não física, mas podia senti-lo com meus dedos,
Talvez um anjo que aos outros pudera causar medo
Mas dei-lhe olhos de neblina, que fitavam a mim, sem pausa,
Esses olhos enevoados, espantados, de frias causas.

E via nesse brilho um tanto apagado um tom de agradecimento
E recebia, um tanto acanhado, asas que lhe dera a seus pensamentos
Para que junto a mim pudesse voar na amplitude de um devaneio
Para que junto a mim fosse o único, fosse aquele ao qual sombreio.

E com felicidade reprimida sorria em semblante dócil, esperançoso
E com minha alma o abracei, sentindo um ar misterioso,
Ar de quem sentia por mim tal amor etéreo,
Aquele amor que havia outrora o dado em sigilo e mistério.

E seus cabelos como ondas do mar eu sentia ao meu toque,
Como ondas do mar cortejadas pelos gracejos de um vento forte,
E eu sabia que por dar-lhe som, cor e amor estava condenado à dor
Porque enquanto tudo ao meu redor coloria, minha própria existência esvaecia,
Pois o sofrer de não poder fazer-lhe existir
Fazia a mim mesmo por entre aquelas sombras sumir.

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