quinta-feira, 6 de abril de 2017

Dois polos

Eu sou a sombra a te seguir
Que só não vês quando te cobre
Eu sou a nuvem negra se aproximando
Que brada, marcha e não se dispersa
Sou noite sem luar
O sol que não nasce
A estrela que se apaga
Eu sou a pantera que se guarda na penumbra
Mostrando os dentes, esperando,
Sou o lobo que se esconde na caverna,
Ou me lideras, ou tenho tua carne,
Sou tormenta inevitável
Diante de tua canoa
Sou deserto severo
Sem oásis, sem civilização,
Sou a terra que te engole
E quanto mais te mexes, mais te sufoco,
Sou a tempestade de neve,
Congelando os teus amores,
Sou o limo à beira do penhasco,
A serpente que avisa antes do bote,
A viúva-negra que desce lentamente da teia,
Sou a árvore a crescer, mais e mais,
E que derruba tudo à sua frente,
Mas sou também mar profundo
Que, por trás do vulcão enfurecido,
Carrega as dores do mundo,
Sou a chuva densa
Que em si mesma se afoga,
Sou o vento gelado
Que se quebra ao contra a parede,
Sou o peso do ontem
Que me arrasta para longe de tudo,
Sou o eremita a se sentir sozinho
Por não ter escolhido a própria sina,
Sou, portanto, os dois pesos dessa odiosa medida.

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