domingo, 5 de abril de 2015

O Céu

    As cidades e as estrelas se repetiam enquanto eu buscava nas variações de cores e nuvens daquele céu que levava consigo a luz do dia mais uma vez qualquer fragmento de mim que me pusesse a dormir com uma melodia suave, me fazendo esquecer as feridas que o tédio dos outros havia aberto em mim. As pequenas ondas que chegavam à beira da praia e recuavam poucos centímetros antes de meus pés serem capazes de tocá-las pareciam querer me convidar para qualquer conversação interna. As pequenas ondas, que como minhas palavras partiam do imenso mar de ideias mas nunca tinham a coragem para chegar aos pés de quem estava ali, diante delas. E lá você estava, parado. Meus pés fincados na areia úmida não poderiam se mexer para seguir as ondas, e menos ainda poderiam chegar até você. E de alguma forma peculiar você se enquadrava perfeitamente naquele lugar. O céu escuro, riscado de pequenas listras avermelhadas, as luzes nas ruas, as estrelas que mesmo sem saber você tentava imitar, o imenso mar. E você, parado. Minha pulsação acelerada e minha cabeça pesada te observavam com atenção. Eu não poderia me aproximar -não enquanto você era o centro daquela pintura etérea, posta somente para que meus olhos cansados pudessem observar. Meus pés nunca poderiam chegar até você: eles tremiam na mínima ideia de interferir naquele cenário surreal. Minhas palavras nunca o alcançariam, elas quebravam antes mesmo de voarem até você. E você ali, parado. Você é incrivelmente bonito. Não só pela delicadeza de seus traços ou pela assimetria perfeita e serena de seu rosto, mas pela forma como você e o céu, naquele momento eram um só para mim. Diante de mim, ali, parados. Como poderia tocar o céu? Como faria para que minhas palavras pudessem o alcançar, aqui de baixo? Talvez na silenciosa contemplação de suas matizes coloridas e misteriosas você enxergasse bem através dos meus olhos curiosos as palavras que, desesperadas, debatem-se por uma liberdade inalcançável. Talvez, se eu olhasse uma vez mais no fundo de sua alma, você pudesse enxergar as palavras impronunciáveis que, depois de se despirem de todo o peso de meus pensamentos viajantes dos infinitos corredores de meu particular, tentam caber, sem sucesso, em um simples "eu te amo".

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