quarta-feira, 11 de junho de 2014

Deriva

Salva-me!
Ajuda-me a sair do olho do furacão!
Busca-me! Em meio a tempestade,
Fraco, resisto,
Já não estão os meus pés tocando o chão!
Veja os raios cortando a vida,
Veja a calmaria da noite que explode na claridade!

À deriva não há equilibro,
Ventos me empurram, selvagens,
Deus sabe onde isso há de levar!
Deus sabe quando a tormenta há de se acalmar!
Pois só os céus acima das nuvens negras saberão -
A pior tormenta parte do coração!

Ai de mim! Perco-me nas incertezas furiosas,
Rebatem-me os escárnios, sólidos, dolorosos,
Que quereis mais de mim, sombras impetuosas!?
Não vedes que vossa nau é fraca, tanto quanto a minha!?
Não vedes que há de afundar em meio às ondas tempestuosas!?
Arrastai-me logo ao fundo do mar! Arrastai-me convosco, infelizes!
Arrastai-me! Porque é lá nosso lugar!

Deuses que regem a vida, que hei de fazer então?
Apagaram-se as estrelas, cessaram-se os ventos,
Que me restou, além dos destroços de minha solidão?
Que posso fazer, se estou a flutuar nessa infinda imensidão?
Que posso eu agora pensar, se por mim arrisquei-me a vida,
Por meus caprichos, minhas vontades, agora esquecidas,
De que posso queixar-me, se a mim mesmo dirigi a ruína!

Quantas pedras serão contra mim atiradas?
Que julgamento desta vez há de se erguer?
Pois digo, os pilares de minha existência - 
Ai de mim! - já não podem mais sustentar
Aquilo que, torpe, sucumbe devagar,
Aquilo que vê em meus olhos o fim em sua iminência,
Aquilo - por nome de esperança - que agoniza,
Afoga-se e tenta, em vão, prender o ar,
Resistindo bravamente,
Mesmo que apenas veja pela frente
O escuro ainda oculto do mar.

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