quinta-feira, 19 de junho de 2014

Esquece-me ou devoro-te II

   Enquanto eu caminhava lentamente, as paredes pareciam comprimir-se a alargar-se com frequências indeterminadas. Grande era meu esforço para encolher todo o meu corpo, permitindo assim minha passagem por algumas partes. E assim segui, até que cheguei ao que parecia um grande salão, cujas paredes tinham tamanha distância que era possível habitar aquele lugar como em uma verdadeira casa. Em cada uma dessas paredes havia algo que eu poderia assemelhar a janelas, delas se projetavam feixes de luz suave, tocando levemente o chão e formando um prolongamento de luz da janela até metade do perímetro de cada parede paralela à luz. Do alto teto pendia um luxuoso lustre que emanava pequenas chamas brancas - nenhuma capaz de iluminar nada mais que poucos centímetros à sua frente, entretanto. Percorri metade do perímetro da sala, observando cada uma daquelas janelas, mas, não causando-me surpresa, notei que nada havia ali além do branco da luz, branco esse que apesar de  imponente não chegava a incomodar minha vista. Caminhei por mais alguns momentos até estar totalmente coberto pela luz de uma das janelas - a sensação era incrivelmente satisfatória, uma pureza percorria minhas veias, uma calmaria me invadia a mente. Eis que novamente a mesma voz de antes reverbera
   -Teus passos hesitam? Sinto em dizer, garanto que será melhor não hesitar... se hesitas largo-te aqui, à tua própria sorte, no labirinto de teu próprio subconsciente. Queres mesmo perder-te em tua própria loucura? Um passo para trás e nunca mais saberás o que é a sanidade, o que é o mundo real. Um passo em falso e nunca mais verás a luz do dia.
Enquanto terminava de falar, as luzes do salão fechavam-se aos poucos, indo do puro branco, passando pelo pálido cinza até que aquele recinto fosse tomado pela completa escuridão. Um gélido sopro me percorreu a espinha, e como um reflexo imediato passei a correr em linha reta. Após uma breve pausa,  completou:
   -...por outro lado, se confias em mim e segues em frente, terás não a garantia de estar salvo, mas a possibilidade de descobrir algo além. Que importa se sairás daqui? De qualquer forma teu futuro é incerto. Permanece e te perderás. Segue-me e descobrirás se sou merecedor de tua confiança. Em todo caso, posso garantir que nenhum ferimento poderei eu causar-te. Então, novamente entrego a ti meu questionamento, confias em mim?

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