domingo, 15 de junho de 2014

Esquece-me ou devoro-te I

    -...Ouves-me? Se sim, é porque desejas ouvir-me. Estou ao teu lado, dentro de ti, vivendo cada momento contigo. Sei de teus pensamentos mais profundos e secretos, de tuas reflexões mais corrosivas e de teus prazeres mais mórbidos. Sei de cada passo teu e de cada sorriso que escondes em teu âmago por puro medo. Posso ver teu medo, posso senti-lo e até tocá-lo. Temes a mim? Não podes enganar-me, conheço a ti mesmo assim como um capitão conhece os mares. Conheço pedaços de ti que tu nunca enxergastes. Conheço os animais que vivem em ti, como loucos, selvagens, possuidores de tamanha força que poderiam dilacerar-te em minutos. Conheço luzes que poderiam cegar-te, outras que poderiam ofuscar-te, ou ainda as que causariam em ti tamanho encanto que haveria de servi-las como escravo. Conheço pequenas flores que te causariam imensa felicidade, que abririam o teu sorriso para nunca mais fechá-lo. Conheço céus nos quais teus olhos perder-se-iam e nuvens que os teus mais ardentes desejos alcançariam e tomariam para si, apalpando-as como a recompensa de um árduo trabalho. Então, confias em mim? Seguirá minha voz enquanto mostro a ti teus próprios segredos?
     Abri então os olhos. Além de mim não havia nada. Tudo estava na mais plena escuridão, mas de alguma forma uma luz permitia que enxergasse meu corpo perfeitamente - além de enxergar as vértices das negras paredes - mas ao mesmo tempo não roubava a opacidade daquele lugar indefinido. Levantei-me, e visivelmente perdido em indagações, sentia que algo estava a me observar, mas não sabia o quê, muito menos de onde. A passos lentos, fui seguindo na direção de onde aquela voz anteriormente parecia ecoar.

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